O termo ESG/ASG (Ambiental, Social e Governança / Environmental, Social and Governance) está revolucionando empresas privadas, setor público e mercados de todo o mundo. Criado em 2004 no relatório “Who Cares Win” da United Nations Global Compact, uma iniciativa da ONU para impulsionar a Responsabilidade Social Corporativa, esse acrônimo tem ganhado cada vez mais força. Investidores institucionais, gestores de recursos e até mesmo investidores individuais estão abraçando a ideia de considerar critérios não financeiros ao tomar decisões de investimento. E os números falam por si: de acordo com a Global Sustainable Investment Alliance, em 2020, os Investimentos Sustentáveis já representavam 35,9% dos ativos sob gestão nos mercados desenvolvidos, totalizando impressionantes US$35,3 trilhões.
No Brasil, estamos apenas começando a construir uma taxonomia robusta para definir e caracterizar os Investimentos Sustentáveis. Destaca-se o novo regulamento da ANBIMA para fundos IS, que inicialmente abrange fundos de renda fixa e ações e começou a ser implementado ao longo de 2022. Esse regulamento estabelece critérios claros para que as instituições financeiras possam destacar o termo “IS” na nomenclatura de seus produtos de investimento. Além disso, temos uma classificação mais antiga, desenvolvida pela mesma entidade em 2008, chamada de fundos de Sustentabilidade/Governança, que foca em fundos de ações do mercado nacional. Essa classificação identifica fundos que investem em empresas com altos padrões de Governança Corporativa e que se destacam em Sustentabilidade e Responsabilidade Social. Nos últimos anos, temos observado um crescimento significativo nesse tipo de fundo. Apenas entre 2019 e 2021, o número de fundos nessa categoria aumentou de 22 para 45, e os ativos sob gestão saltaram de R$1,8 bilhão para R$2,9 bilhões no mesmo período.
Os fatores éticos que impulsionam a transformação do conceito ESG são inúmeros e evidentes. Desde a crise climática até a transição energética, passando pela busca por igualdade de gênero e a luta contra a desigualdade social, todos esses aspectos são motivos fortes. No entanto, quando se trata de alocação de recursos no mercado financeiro, a moralidade por si só pode não ser suficiente. É necessário que esses produtos de investimento também apresentem desempenho financeiro sólido. Grande parte desses recursos pertence à sociedade como um todo, por meio de fundos de pensão e fundos patrimoniais que gerenciam recursos de instituições sem fins lucrativos, sejam públicas ou privadas. É nesse contexto que realizamos o estudo “Sustainable and Governance Investment Funds in Brazil: a Performance Evaluation”, recentemente publicado no periódico suíço Sustainability. Analisamos a performance desses fundos de Sustentabilidade/Governança em comparação com fundos de investimento convencionais, que também focam em ações e possuem perfil de risco semelhante.
Nossa análise, que abrangeu o período de janeiro de 2019 a dezembro de 2021, explorou duas janelas temporais. A primeira refere-se a um período de alta, também conhecido como Bull Market no jargão financeiro. A segunda janela é caracterizada por um período de choque econômico causado pela pandemia de COVID-19, que ocorreu entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021 e é comumente chamado de Bear Market. Dividimos dessa forma para identificar possíveis diferenças de desempenho entre as duas categorias de investimento em diferentes momentos do ciclo econômico. Analisamos o retorno mensal de cada carteira de fundos, a volatilidade desses retornos e a geração de valor em relação aos principais índices de mercado, especificamente o Ibovespa e o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).
Alguns resultados interessantes surgiram em nosso estudo. Durante o Bull Market, os fundos convencionais apresentaram um desempenho ligeiramente superior, com uma margem variando de 0,10% a 0,40%. No entanto, durante o Bear Market, não encontramos diferença significativa entre as duas categorias de investimento. Além disso, notamos uma variação de desempenho menor entre os diferentes momentos do ciclo econômico (Bull e Bear Market) para os fundos de Sustentabilidade/Governança, o que pode indicar um desempenho mais consistente desses investimentos ao longo do tempo.
Estudos similares em mercados desenvolvidos apresentaram resultados semelhantes. Em geral, os fundos IS tendem a ter uma variação de desempenho menor, principalmente em momentos de crise econômica. Especula-se que considerar fatores como responsabilidade ambiental, boas práticas de relacionamento com fornecedores e desenvolvimento de talentos garanta a sustentabilidade das organizações e, consequentemente, beneficie seus investidores a longo prazo. No entanto, a discussão sobre essa possibilidade deve ser tema de pesquisas futuras. O importante a destacar é que, mesmo sendo uma classe de investimento incipiente, os investimentos sustentáveis ou ESG já mostram sinais de que é possível conciliar a geração de valor para o investidor com um impacto positivo na sociedade.
Descubra agora mesmo o potencial dos investimentos sustentáveis e ESG. Invista com consciência e obtenha resultados financeiros enquanto contribui para um mundo melhor.
Autor: Rafael C Franco